quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

E se Deus existir

«...Um viajante encontra no seu caminho um rio caudaloso; é preciso atravessá-lo; ignora se existe algum perigo de um ou do outro lado e apercebeu-se que muitos outros viajantes se encontram como ele na margem do rio, ponderando qual será a profundidade do rio em determinados lugares e a impossibilidade de salvar-se se o tentassem atravessar em determinados sítios. Mas eis que aparece um insensato e temerário e diz: - « que me interessam a mim essas questões!»; e atira-se ao rio sem olhar aonde. Pois bem, eis aqui o indiferente em matéria de religião. Perante o formidável problema da eternidade, ele lança-se ao rio, sem sequer pensar que devido à sua temeridade e imprudência, não se irá salvar...» (Balmes, O Critério, cap.21,BAC Obras Completas)

Sempre me fez reflectir aquela palavra da Sagrada Escritura, "sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se chegar a Ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram". (Hb 11,6)

Muitos infelizes assumem à priori que Deus não existe ou se existe, vivem como se ele não existisse. Mas a religião diz-nos que existe e que castiga terrivelmente os maus na outra vida e que premeia os bons para lá do que possam imaginar ou supor. Mais, a religião diz-nos que na outra vida, esse castigo ou esse prémio será eterno... E é aqui o fundamental da questão. O que está em causa é uma eternidade...

É impressionante, mas é verdade. Poderiam pensar, que não existe relógio sem relojoeiro, que o universo é de tal forma matemáticamente perfeito que necesáriamente teve de ter uma inteligência que lhe definiu as leis e regras matemáticas que o regulam. Poderiam supor que não existe um edificio sem que alguém o tenha construído e idealizado..., mas não! Na sua ânsia de gozar, de ser livres, e de não ter de obedecer às Lei de Deus, que visam a felicidade de todos e não sómente de alguns, resolvem prescindir de Deus à priori, e mergulham na autosuficiência de uma vida sem Deus e..., eis que de repente morrem!...

Aqui aplica-se a célebre expressão de Sto Agostinho: « não os conhecerá, aqueles que em vida não O quiseram conhecer ».

Daí continuar Balmes «... vêm o indiferente e diz : « Tudo isso (da religião) não merece a pena ser examinado; eu julgo sem ouvir; esses sábios são todos os mentecaptos, esses legisladores uns néscios; a humanidade inteira vive na mais miseravel ilusão (escutando a religião e o que ela têm a dizer); todos perdem lastimosamente o tempo em questões que nada importam... E responde o crente : - Quem és tu que assim nos insultas, que desprezas os sentimentos mais íntimos de coração e todas as tradições da humanidade e assim declaras frívolo o que toda a humanidade declara como grave e importante? Quem és tu? Descobriste por acaso, o segredo de não morrer? Miserável montão de pó! Esqueces que muito em breve te dispersará o pó? Débil criatura! Contas acaso com meios para mudar o teu destino nessa região que desconheces? A Felicidade ou infelicidade são para ti indiferentes? Se existe esse Juíz em quem não queres pensar, esperas que se dará por satisfeito se ao chamar-te a juízo lhe responderes : - « E a mim que me importam a vossa lei ou a vossa existência»? Antes de desatar a tua língua com tão insensatos discursos dá uma olhadela para ti mesmo...senta-te sobre uma tumba, recolhe-te e medita.» Balmes, O Critério,XXI,II

Que Deus existe, é claro como a água, pois não existe movimento sem força aplicada, nem efeito sem causa. E senão existe efeito sem causa, tudo quanto começou a existir teve necessáriamente que ter uma causa que lhe deu a existência, pois é absolutamente impossível que algo que não exista, possa dar a si mesmo a existência, na ordem material, isto é, dentro das coordenadas de espaço e de tempo, aonde habitamos. Só um orgulho descomunal e uma soberba demoníaca pode afirmar, depois de comtemplar um mar, um sol com a sua Luz, um céu estrelado, "Deus não existe." Para esses responde S.Paulo :

« Manifesta-se com efeito, a ira de Deus, do alto do céu, contra toda a impiedade e injustiça dos homens que mantêm a verdade prisioneira da injustiça. Porque o que se pode conhecer de Deus é manifesto para eles, pois Deus lho revelou.Sua realidade invisivel - seu eterno poder e divindade - tornou-se inteligível desde a criação do mundo, através das criaturas, de sorte que não têm desculpa. Pois tendo conhecido a Deus, não o honraram como Deus, nem lhe renderam graças; pelo contrário, eles se perderam em vãos arrazoados, e seu coração insensato ficou nas trevas. Jactando-se de possuir a sabedoria, tornaram-se tolos e trocaram a glória do Deus incorruptível por imagens do homem corruptível...» Rom 1,18-23

Assim, quem comtempla o mundo na sua imensa variedade e beleza, tanto vegetal, como animal ou mineral e diz no seu coração" Deus não existe" e vive como se ele não existisse, esse não têm desculpa, pois a sua soberba e orgulho cegam-no. A imagem de Deus nessa alma já está morta. Para esse infeliz, a morte será o término do tempo da infinita misericórdia de Deus. E como a criatura se recusou a honrar a Misericordia Divina de Deus, no tempo, irá honrar a sua Infinita Justiça na eternidade, que dá a cada um, aquilo que é seu por direito e que merece...

Aliás, já dizia o livro da Sabedoria « Sua esperança: mais vil que a terra! Sua existência: mais desprezível que o barro! Pois desconheceu Aquele que o modelou, infundindo-lhe uma alma ativa e inspirou-lhe um sopro vital. Mas ele considerou a vida como um jogo e a existência uma feira de negócios: É preciso ganhar - diz ele - por todos os meios , mesmo maus! sim, este, mais que todos, sabe que peca" Sab 15,10-13

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ausência de fé, não é fé. Será?

Estava a surfar na net e vi este artigo no site www.ateismo.net/?p=4306 em que o autor, um tal de Ricado Alves afirmava que a ausencia de Fé não é fé... Passo então a citar o dito artigo:

« Há religiosos que gostam de dizer que os ateus têm fé de que «Deus» não existe, e que portanto têm tanta fé como os crentes. É uma afirmação absurda. Ausência de fé não é ter fé, do mesmo modo que a careca não é um penteado e a saúde não é uma doença. Pode estar-se doente com gripe, arteriosclorose, varicela, diabetes, gonorreia ou cancro, mas estar saudável não é uma doença: é o estado de ausência de doença. Da mesma forma, pode ser-se muçulmano, católico, cientologista, mórmone ou budista, mas ser ateu não é outra forma de ter fé; é ausência de fé. »

Ó santa ignorância...Verdadeiramente só «não acredita em Deus quem lhe convém que Ele não exista»... Como pode demonstrar este infeliz que Deus não existe? Não pode. Ele acredita que Deus não existe. E acreditar não é ter fé? Se este crente fosse ao dicionário, poderia lá ler :

fé , do Lat. fide, s. f., crença, convicção em alguém ou alguma coisa;

Então fé, é uma crença em algo ou alguma coisa...Logo este crente, acredita que Deus não existe. Não o pode provar ou demonstrar, mas ele acredita - piamente diria - que Deus não existe. Logo é um crente, invertido, mas ainda um crente - e dos mais fundamentalistas que tenho conhecido -, quer o queira quer não, pois ele acredita que Deus não existe,... Ele também acredita que o universo se fez a si mesmo, que do nada vieram seres por acção do nada, que os quadros aparecem sem pintores ou que há relógios sem relojoeiros...Verdadeiramente, o ateu é um homem de convicções e crenças... Ele é o mais pio e simplório dos crentes porque as suas crenças são irracionais. Ele acredita em tudo, menos em Deus...

Continua depois este doutor expert em ignorância: - A ausência de fé não é fé...Como? Mas será que esta criatura, não vê que o silogismo é falaz, na medida em que ele não possui ausência de fé, mas uma fé invertida...Ele crê que Deus não existe. É sempre uma crença, mas em oposição à crença verdadeira. Aqui aplica-se aquela expressão popular « Se não vivermos como pensamos, depressa acabaremos a pensar como vivemos».

Para esclarecimento, a Fé, no sentido cristão, sempre foi um assentimento do intelecto à verdade, baseado na autoridade que Deus tem para revelar. A fé não destroi a razão como o telescópio não destroi a visão. A fé é uma outra qualidade de luz. Possuimos os mesmos olhos tanto de dia como de noite e apesar de isso as coisas ocultam-se-nos durante a noite E porquê? Porque nos falta a luz do sol. Dizia Fulton Sheen « Dois homens olhavam através das grades da prisão onde se encontravam; um deles fixava-se na lama e o outro nas estrelas » O mesmo olhar, mas que visões diferentes...

«...supunhamos por um momento que Deus não existia; supunhamos que pertencia, como querem os ateus, ao puro campo da ficção e dos contos de fadas...Nesse caso qual seria a diferença entre D.Quixote combatendo contra os moinhos de vento que ele tomava por inimigos e um D. Quixote ateu combatendo um Deus que ele considera pura fantasia? Qual seria a diferença entre um louco a bater os braços como se fossem asas por julgar que os travesseiros da sua cela fossem nuvens, e um ateu a bater braços de fúria, só porque Deus é uma ficção? Se Deus não existe não há diferença alguma, porque ambos combatem efeitos da imaginação e é isso que enlouquece o homem - a projecção da fantasia. Há um facto que devemos ter presente para o eterno crédito do ateísta. O ateu à sua mesa de trabalho n
ão é o mesmo que um desarranjado mental na sua cela; a sociedade encarcera um e não o outro; fecha um deles à chave mas deixa andar o outro em liberdade - E porquê? Porque o objecto que o ateu combate, é um objecto real; e o objecto que um louco combate é só imaginário. Por outras palavras: aquilo que isenta o ateu do estigma da loucura é o facto de Deus ser real, não como a realidade de um sonho, mas como um inimigo que lhe aparece á porta. Só porque Deus é real, só porque o inimigo é real e não ficticio é que os ateus nunca se devem classificar de maníacos. Por isso é que se pode falar de teísmo do Ateísmo...» Fulton Sheen

O ódio prova a realidade do objecto odiado e sendo Deus o único ser que é infinitamente odiado e infinitamente amado, devemos concluir que, não só Ele existe como é infinito.