quinta-feira, 27 de março de 2008

A Graça Santificante

«... Suponde dois homens que dão esmola a um pobre; um tem, pela graça, a santa amizade de Deus, dá esmola por um impulso de caridade divina; o outro não têm na alma a graça santificante: ambos fazem exteriormente a mesma acção; mas, aos olhos de Deus, que diferença! A esmola do primeiro vale-lhe um aumento de felicidade infinita e eterna; é dele que Nosso Senhor disse « um copo de água dado em seu nome não ficaria sem recompensa [ Mat,10,42] ; a do segundo é, com relação a essa mesma bem aventurança, sem merecimento, ainda que ele distribua montes de ouro. O que vem só da natureza não têm valor para a vida eterna...» D.Columba Marmion, Jesus Cristo Vida da Alma, V A verdade na caridade, pg 281, Ed. Ora & Labora.

Impressionante não é ! Tudo o que é feito sem Graça Santificante, isto é, as acções únicamente humanas, fundadas unicamente num bem natural, para nada servem para a eternidade, pois sem a Graça Santificante, aos olhos de Deus a alma está morta espiritualmente falando. Então todo o bem natural que uma alma possa fazer, por maior que seja, senão estiver revestida da veste nupcial da Graça, isto é, se a sua Fé e não for informada pela Caridade Divina que nos faz amar a Deus por ele ser quem é, Infinitamente Bom e Digno de todo o nosso amor, e o nosso próximo por amor a Deus, não tem qualquer utilidade para a eternidade. É verdade, em atenção a esse bem natural praticado, Deus recompensará o mesmo com algum bem temporal ou natural ainda neste mundo...Mas para a eternidade nada valem. E se alma morrer sem a veste da Graça nupcial da Caridade Divina, morre como inimiga de Deus, e para sempre permanecerá afastada do Bem Supremo e Infinito. Perder um bem infinito significa em certa medida, uma pena infinita...O que será perder O Bem infinito por excelência, por toda a eternidade...

Como é verdade o dito de Jesus : « Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á. » S. Jo 15, 4-6

Dai aquela expressão de S.Paulo aos Coríntios : « Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!...» 1 Cor 13, 1-3

E que Caridade é esta que S. Paulo fala? Não é aquela caridade da esmola e muito menos aquela caridade filantrópica dos maçons. É aquela faculdade sobrenatural que só existe numa alma em estado de graça, que nos faz aderir a Deus como à Bondade infinita, que amamos mais que tudo. É o que diz S.Agostinho ao afirmar « A companheira da Fé é a Esperança; é necessária, porque não vemos o que cremos; com ela não desfalecemos na espectativa; vem enfim a caridade, e põe em nosso coração a fome e sêde de Deus, imprime à nossa alma um impulso para Ele.» Sermo LIII

É esta Caridade que nos faz sentir uma verdadeira predilecção por Deus; preferimos Deus a tudo e procuramos mostrar-lhe esta complacência e esta preferência, cumprindo a sua vontade. Por esta caridade sobrenatural - porque é infundida por Deus na nossa alma - somos capazes de chamar a Deus de Pai. "Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai!" (Rm 8,15) . Esta Caridade corresponde ao Espirito Santo inabitando na nossa alma.

Por essa Flor - Graça Santificante - cujo fruto é a Caridade sobrenatural, somos participantes da Natureza Divina e amamos a Deus por Ele ser quem é : Ser infinitamente Bom e Amável e digno de todo o nosso amor. E por amor para com Ele, amamos o nosso próximo como a nós mesmos.

«... Tendo decidido [Deus] fazer-nos participar da sua vida infinita, da sua própria felicidade - o que para nós constitui um fim sobrenatural - , tendo-nos dado a sua Graça, Deus quer que a nossa união com ele seja uma união, uma santidade sobrenatural, que tenha por principio essa graça. Tudo quanto estiver fora deste plano representa para nós perda para a eternidade. Deus é o senhor dos seus dons e decretou, desde toda a eternidade, que só seríamos santos diante dele, vivendo pela graça, como filhos de Deus.»... D.Columba Marmion, Jesus Cristo Vida da Alma, pg 21.

2 comentários:

anónimo disse...

Olá...
Meu caro, passei para ter notícias suas... Espero que esteja tudo bem.
In corde Jesu, semper.

Anônimo disse...

Carlos,

E voltar a escrever qualquer coisita não?

Que novidades me dá do catecismo de Trento? Que grande serviço o Carlos vai prestar à Tradição Católica em Portugal! Ainda demora muito?

Cumprimentos em Cristo